Retornando à Educação Básica
Eu parei um texto, “Alguns pontos pacíficos”, na tentativa de apresentar alguns parâmetros provenientes de uma prática educacional, porque querendo ou não, a preocupação sempre presente em não ofender ninguém, como se isso fosse possível, prevalece.
Continuo “lendo” artigos sobre educação, mídias e informática, e ao mesmo tempo em que procuro me tranqüilizar, a este respeito, mais em pânico fico.
Esta situação presente nos materiais disponíveis para estudo ou capacitações, como diz o outro, “já vi este filme antes”, está cada vez mais difícil, dentro das minhas possibilidades de fechar algum raciocínio a respeito.
Vou tentar clarear.
No meu tempo de estudante de pedagogia, não se tinha o costume de trabalhar ou estudar autores brasileiros.
Não nos eram oferecidos. (década 60/70...)
Teorias, programas e autores eram “importados”.
Assim, um dos exemplos, o autor Florestan Fernandes, era desvalorizado nos estudos de sua obra, estivesse certo ou não.
Como é referenciado hoje, nem existia ou era apontado como alguém da elite que fazia cópias de programas estrangeiros, tentando adaptá-los aqui.
Então, em mais ondas de modismos, “ou não”, fui contemporânea da implantação da Taxonomia dos Objetivos Educacionais, Exercícios Estruturais, Instrução Programada.
Nós não entendíamos muito o significado de “in put” e “out put” na taxonomia.
A prática era somente um vasto conhecimento de verbos no infinitivo ao gosto do freguês, tanto em qualidade como em quantidade, quando preenchíamos formulários ou planejamentos.
Aí veio o tempo de tentar sufocar a memorização, para “mecanizar” a aprendizagem, onde a prática era iniciar uma tarefa com um exemplo e o aluno prosseguia as repetições solicitadas (só lembro disso).
Na época da Instrução Programada eu estava em escola particular.
Era moderno e “point” oferecer ao aluno formas de trabalhar o máximo individualmente e o uso de oferecer apostilas, “facilitava” isso, claro que em termos.
Os cursos na maioria eram oferecidos por instituições católicas ou pela Utramig.
Assim, a cada momento nestas relações entre os que ditavam as regras e os que procuravam acertar por ensaio e erro a sua prática, qualquer ajuste ou sentido nas respostas exigidas, não passava muito de um jogo.
Entender ou compreender o que se estava fazendo, eram “outros quinhentos”.
Definir o público alvo? Metodologia? Avaliação? Pra que?
Esta forma embaraçosa de lidar com educação me fazia responder as questões pedagógicas, apoiada nas propostas de Jean Piaget, porque sentia que ele falava de uma criança como “aprendiz universal”, sem preconceito.
Tinha lógica, procedência, racionalidade.
Mesmo que a bibliografia fosse estrangeira, nós enquanto estudantes, e uns poucos profissionais, para aprender, nos mobilizávamos nos entendimentos.
Hoje a coisa está bem mais difícil.
Eu reconheço sem sombra de dúvida a importância da informática.
Entendo que esse caminho é progressivo, inovador, mais dinâmico.
Por outro lado, as coisas estão se tornando cada vez mais sufocantes, se o objetivo for participar da inclusão pedagógica no uso das TICs.
Talvez fosse melhor abrir um parênteses na descrição de uma prática:
quando estávamos tentando adotar o sistema de ciclos, nas fases iniciais do antigo primário, rebatizado como ensino fundamental, deveríamos acompanhar com mais cuidado o desempenho destes alunos e lhes proporcionar maiores flexibilidades neste desenvolvimento, adaptando-os em seus estágios correspondentes.
Assim um aluno iniciando seu processo de alfabetização teria que cumprir, dentro de um determinado tempo, um ritual e o conteúdo que lhe era imposto.
No final do ano, os que não haviam vencido, eram reprovados e teoricamente teriam que reiniciar todo o processo do zero, ou seja, como os ditos “novatinhos”.
Mas na realidade eles eram recebidos e tratados como se fossem obrigados a possuir a programaçao que só passou por eles.
Como não davam conta, ficava por isso mesmo.
Não havia santo que fizesse as professoras entender a necessidade de se começar tudo de novo, tentando formas diferentes de aprendizagem.
Justificar como ausência familiar, problemas sociais, desleixo, preguiça ou outros tais, ficava mais fácil, para estas turmas que se avolumavam dos que “eles não aprendem mesmo”.
Esta indiferença básica se transferia do seriado para o ciclo, permanecendo as distancias entre os capacitados e, em maior número, os incapacitados, diante deste processo de alfabetização e, principalmente de letramento.
Atualmente isto pode estar acontecendo também com a classe dos professores pressionados ao uso das TICs, com o agravante, dessa vez: os alunos agora estão presentes na dianteira e de certa forma independentes.
Ou seja, no letramento digital, essencialmente necessário e urgente para que todos os professores se instrumentalizem na sua prática pedagógica e dominem mais a visão critica sobre sua pratica relexiva, no sentido de estabelecer um diálogo constante com seus alunos e a sociedade nas quais estão inseridos, objetivando uma participação contínua e evolutiva, que cada vez mais se fragiliza.
O resultado disso é a formação de um grupo de professores com dificuldades: trabalham em escolas ou sistemas que não lhes cobram e nem lhes dão condições de no mínimo, construir um perfil profissional característico de sua formação.
Exercem funções sociais acumuladas, indiferentes e à parte, ocultando se estão ou não causando maiores problemas.
Ocupam o lugar da família, psicólogos, juizes, vigias, agentes de saúde, policiais, religiosos, etc., e, pelo acumulo de equívocos, muito pouco de sua função de professor.
Lidam diretamente com alunos que estão construindo cada vez mais rápido, um dialeto próprio, além de estarem aceleradamente dominando as mídias, consideram os professores “tradicionais” descartáveis.
Isto torna o jogo de interesses sociais diversificados e cada vez mais um grupo entende menos os propósitos do outro, deixando livre espaço para as violências.
Outro grupo de professores, melhor aparelhados, dominantes de línguas estrangeiras, não parece muito preocupado com os que não são.
Fixam-se em exercer parcerias diretamente entre seus pares.
Vão se transformando em exemplo de uma casta de intelectuais, que não conseguem dialogo a não ser entre si.
Aquela velha historia, as TICs estão aí, cada um que corra atrás.
Atitude equivalente à aquela em relação aos alunos que de primeira não conseguem se alfabetizar?
Ou não tem nada a ver esse tal de cada um no seu quadrado, visto só por um lado?
Então, não só a bibliografia pedagógica como a do uso das TICs, que tenta aproximar, aplicar ou transformar essas práticas, distanciam enormente da realidade contextual.
Como exemplo, abaixo vai um texto que parece apontar um pouco disso:
Uso das TICs no Brasil - Irenice de Fátima Carboni 29/07/20011
Blogs_educativos
– Como os professores vencem os desafios Share
“...a maioria dos professores acredita “que o computador é ferramenta que pode mudar conceitos sobre as matérias e as habilidades, transformando-as ou substituindo-as”.
Apoiados na motivação do aluno podem conseguir mudanças como “desenvolver estratégias de aprendizado e habilidade de solução de problemas”.
Considerando a necessidade que a globalização impõe e os programas do governo incentivando a utilização de computadores e o acesso à Internet nas escolas surge o grande conflito para alguns professores, tais como a falta de computadores, horário disponível no laboratório de informática, necessidade de nova metodologia, disciplina, e principalmente a falta de conhecimento do uso das TICs, assim como integrá-las e utilizá-las em suas atividades com os alunos.
No Brasil tem se levado um tempo absurdo para que as inovações educacionais cheguem à ponta do processo: a sala de aula, e conhecer o que os professores pensam, suas necessidades, seus receios e capacidades, é necessário para que se alcance esse objetivo.
Até.
Nenhum comentário:
Postar um comentário