Notícias Terça-Feira, 26 de julho de 2011
7. Tese da USP aponta para possibilidade de comportamento antiético na publicação de artigos científicos brasileiros.
De acordo com o estudo, entre os problemas mais comuns estão a citação de mais livros e artigos na bibliografia além dos realmente usados, o que aumenta a credibilidade do estudo, e a coautoria, que aparece como favor trocado.
Tese de doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) alerta para a possibilidade de problemas de conduta ética na publicação de artigos científicos de pesquisadores brasileiros, tais como coautorias forjadas e citações de fontes não consultadas na bibliografia dos trabalhos acadêmicos.
O autor da tese, Jesusmar Ximenes Andrade, cita entre os problemas mais comuns a citação de mais livros e artigos na bibliografia além dos realmente usados, o que aumenta a credibilidade do estudo, e a coautoria, que aparece como favor trocado.
Nesse último caso, os falsos parceiros assinam dois artigos em vez de um e, assim, aumentam sua produtividade, quesito que é avaliado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no processo de classificação dos programas de pós-graduação.
Ligada ao Ministério da Educação, a Capes é uma das agências de fomento à pesquisa científica e acadêmica do governo federal.
A suspeita de ocorrências de conduta antiética na produção de artigos científicos veio a partir da aplicação de 85 questionários, respondidos por participantes do Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, realizado em 2009, em São Paulo.
Segundo a pesquisa, a maioria das pessoas afirmou não conhecer nenhum caso de má conduta, mas elas acreditam que tais práticas sejam comuns.
Andrade estranhou o resultado.
"As pessoas conhecem pouco, mas acreditam que ocorrem [problemas antiéticos] mais do que acontecem?
Eu presumi que quem estava respondendo sobre as suas crenças também estava respondendo sobre os seus próprios hábitos", disse o autor da tese, que é professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A tese foi defendida em abril, no Departamento de Contabilidade da FEA/USP.
Andrade destaca o fato de os resultados de sua pesquisa dizerem respeito à "má conduta na pesquisa das ciências contábeis", mas avalia que "não encontraríamos resultados muito diferentes se fôssemos para um censo", incluindo todos os campos científicos.
Para ele, o Brasil mantém o foco na quantidade, critério que fez o País ocupar o décimo terceiro lugar na produção científica internacional, e não se preocupa com a qualidade.
"Por que o Brasil não tem um [Prêmio] Nobel?", pergunta ao afirmar que "a quantidade que nós estamos buscando é infinitamente desproporcional à qualidade dos estudos que estamos produzindo".
A busca por quantidade é almejada por todos os pesquisadores, de acordo com Andrade.
"Seja para conseguir recursos ou para obter status dentro da academia."
Em sua opinião, "para buscar essa quantidade, esse volume, termina-se utilizando certos artifícios que, segundo foi observado, não são condutas livres de suspeita.
São condutas impregnadas de comportamentos antiéticos".
O autor da tese diz que a Capes dispõe de "métricas" de avaliação mais voltadas à qualidade do trabalho do pesquisador do que à quantidade de artigos gerados.
"O sistema de avaliação chamado Qualis pontua os artigos conforme a revista científica de publicação", lembrou.
A Agência Brasil procurou pela Capes desde a última sexta-feira (22), mas foi informada ontem (25), por e-mail, que o diretor de Avaliação, Livio Amaral, "precisa de uns dias para ler a tese".
O professor de metodologia do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Medeiros, não concorda com o conceito de que a busca por quantidade seja prejudicial.
Segundo ele, a pressão da Capes por aumento da produtividade "é mínima".
Em sua opinião, "opor quantidade à qualidade não é correto". "
Nas ciências em geral, os melhores pesquisadores são também professores que têm bom nível de publicações.
Publica muito quem pesquisa muito."
(Agência Brasil - 25/7) JC e-mail 4308, de 26 de Julho de 2011.
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=78553
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