Carta Aberta à Guido Mantega
Publicado sexta-feira, 6 julho, 2012 r Economia
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Carta
Aberta à Guido Mantega
Sexo,
Mentiras e… Greve
Sr.
Ministro
Inicio
esta missiva invocando uma faceta sua, pouco conhecida do grande público: a de
teórico da sexualidade. Li com grande interesse a obra “Sexo e Poder”, em que
teorizaste junto a importantes pensadores do tema, como Olgária Matos, Maria
Rita Kehl e Jean-Claude Bernardet, constelação que compôs a obra, inclusive,
sob a tua batuta de coordenador.
Lembro-me
de que o papel da sexualidade nas relações de poder é situado por ti no âmbito
das relações mais sutis, invisíveis. Afirmaste ainda que o
autoritarismo mais eficaz não é visto a olho nu, ainda que possa ser tão
eficiente quanto a polícia ou as instituições judiciárias.
Sendo
assim, no campo da sexualidade, tal autoritarismo é uma das várias
manifestações deste poder invisível, subterrâneo, que age na penumbra,
entranhando-se até mesmo nas sociedades de aparência a mais democrática.
E, concluíste afirmando que a sexualidade tem estado comprometida com as
relações de dominação existentes ao longo destes anos de civilização.
Em sua
reflexão, no capítulo 1 do referido livro, utilizando-se de referencial
marxista, criticaste Freud por estabelecer uma espécie de hierarquia do
prazer, onde o gozo do trabalho agradável ou das obras de arte
seriam menos intensos do que aqueles produzidos por instintos mais
grosseiros e primários. Baseaste sua crítica na constatação de que faltava
à teoria freudiana uma compreensão adequada e mais abrangente de trabalho, que
pudesse dicotomizar a insatisfação com o exercício do trabalho alienado do
incomensurável prazer que emana da atividade que é exercida por gosto, por
vontade e não sob coação ou necessidade.
Pois bem,
neste sentido, vossa fala, afirmando que o Plano Nacional de Educação (PNE)
vai quebrar o Estado, está em clara consonância com a política educacional
do Governo Dilma, colocando os formuladores do PNE – docentes, pesquisadores e
parlamentares, inclusive do seu próprio partido – na condição de trabalhadores
alienados, com braços, pernas e mentes comprimidos pelo torniquete da
“austeridade fiscal”. O senhor reafirma, com esta fala, que os professores
brasileiros, trabalhadores aviltados pelo Estado, continuarão a exercer sua
atividade sob a pressão da mera necessidade de subsistência. Imagine o que
estaria indicando o “orgasmograma” ficcional criado por você, em Sexo e
Prazer, caso medisse a satisfação destes profissionais com as condições em
que seu trabalho é exercido.
Sr.
Mantega, não podemos sequer fingir orgasmo com os impotentes 3% do PIB
destinados pelo Brasil à educação. E, cá pra nós, ainda que sejas um economista
reconhecido e que tenhas feito esta bem sucedida incursão pelo campo da
sexualidade, pergunto: porque acredita que possa fazer alguma inferência em
relação às necessidades do campo educacional?
Meu caro
economista do sexo, segundo José Marcelino Rezende Pintor, da USP, para cumprir
efetivamente as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), o investimento do
PIB no setor deve chegar a 10,7% em 2020. Nelson Cardoso Amaral, da UFG, por
sua vez, afirma, que se o País aplicar 10% do PIB, atingirá padrões próximos
aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
que é de 6 mil dólares por aluno entre 2020 e 2030. O pesquisador afirma ainda
que se forem aplicador 8% do PIB, esse patamar será atingido entre 2030 e 2040
e, se for aplicado 7%, só se aproximará dos valor investido pelas nações ricas
entre 2040 e 2050.
Caro
Ministro, seu governo diz ter como meta do Ideb a nota 6 (desempenho da
Comunidade Européia em 2005), embora aplique apenas 1/3 do montante investido
pelos países europeus em ensino (R$3,5 mil por aluno, contra R$9 mil dos
europeus). Seu governo, que diz preocupar-se com a educação, investe, nesta
área, pouco mais da metade do que recomenda a UNESCO (6% do PIB), menos do que
a média latinoamericana (4,6% do PIB), menos do que Bolívia, Argentina, México,
Cuba. Enfim, no continente africano, até a pobre Botsuana investe mais do que o
seu governo!
Por fim,
nas já visíveis tramas das relações entre sexo e poder, Senhor Ministro, seu
governo pratica conosco aquilo que V. Sa. cunha de sexualidade autoritária,
castrando intelectualmente os docentes, negando-lhes a possibilidade do prazer
no magistério. E, como diria o finado pensador Roberto Freire, meu caro
economista, sem tesão não há solução.
Com estes
argumentos despeço-me com um singelo pedido econômico-sexual:
- Exmo.
Sr. Ministro, não f… mais com a Educação!
Seja o
primeiro a gostar disso.
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Guido Mantega”
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