Total de visualizações de página

04 janeiro, 2011

Épocas de Sobrevivencia - Catarse funcional

Épocas de sobrevivência


Como afirmei, tive um choque de êxtase frente ao curso de pedagogia que provocou vários efeitos imediatos e colaterais em toda minha vida de profissional da Educação.
Posso partir do tempo em que comecei trabalhando no jornal Estado de Minas, no departamento, se não me engano, de RH, compras, almoxarifado e importação de flans, entre duas chefias paralelas, divididas em um ambiente conjugado. Éramos um grupo de mais ou menos dezesseis pessoas.
Na minha sala, de um grupo de dez pessoas, seis eram universitários da área de humanas, dois a caminho, um excelente e competentíssimo jornalista prático, um grupo com características de grandes estrategistas.
Nos outros setores variavam ensino médio, fundamental, e infelizmente, dois ou três analfabetos, o que não invalidava interesse em sempre aprender e se sentirem muito a vontade conosco.
A sorte continuava me privilegiando nos meus grupos de convivência. Havia uma competição sadia entre nós provocada pelo chefe e principalmente pelo nosso amigo Hugo, um jornalista prático.
Ler, trocar idéias, informações, mais a prática do exercício critico não assustava e não era cobrado como enrolação no serviço. Era livre para todos e ninguém deixava o outro quieto por muito tempo.
O serviço? Bem feito, elogiadíssimo como equipe, tudo com qualidade e a tempo e a hora.
Claro que às vezes aborrecia um pouco, era como se você estivesse a todo tempo de prontidão para responder questões, soubesse ou não, principalmente às colocadas pelo nosso jornalista barranqueiro, chamado de “jovem” no seu mau humor inter etilico. Aliás, nesta sala éramos duas mulheres tratadas de igual para igual, com muito respeito, mas tendo que aturar as constantes mudanças de humores de ressacas dos outros. Se você não tivesse cintura para lidar com isso, não se magoar com pouca coisa, teria que aturar uma gozação pior ainda. Esta sala atraia varias pessoas do prédio, entre elas dois engenheiros diretores, que quando queriam descansar iam para lá ler o jornal e se inteirar das novidades do dia, discutir esporte, política, fofocas, aquilo que se apresentasse no momento, muito do que era de interesse de todos entrava na roda.
Isso rolou acho que uns quatro anos. Aprendia-se de tudo e muito. Lógica, literatura, historia, arte,....Quando entrei, aconteceu um processo parecido com o do Tiririca, aumento de salário, só que o nosso era escalonado, 10% aqui, com mais um tempo, 10% ali. Sei que saí de lá ganhando bem, mas não estar na minha profissão escolhida, me incomodava muito.
Recebi a informação de um emprego de secretária de escola particular no Cotemig, e resolvi falar com minha mãe, havia perdido meu pai como arrimo de família. “Tem esse emprego na minha área, só que teria que sair de um salário de 500,00(não lembro a moeda), para um de 150, 00, que com os descontos, cairia para 136,00”. “É o que você quer? Faça”. Lá fui eu.
Par isso, o combinado era cuidar da vida do aluno, mas como comumente acontece, acumulavam-se mais a vida profissional do professor, registros trabalhistas, diários, distribuição de turmas, administração geral, organização de biblioteca, supervisão do cumprimento das aulas praticas de laboratório, etc. Tudo que o patrão julgar de direito, sem horário de trabalho fixo, de dias e de saída.
Quando apareceu a oportunidade de aumentar a renda e exercer a função de professora, no caso de ciências naturais para 5ª, 6ª e 7ª séries, resolvi aproveitar e falar com o patrão que passaria a cumprir a jornada combinada de 6h. Fiquei só mais uma semana, me demitiram, não precisavam mais de mim.
Eu não concordava muito em exercer esta função de professora, porque não era formada em Biologia, mas era legalmente permitido lecionar com o currículo da Pedagogia Plena. Eram três conteúdos diferentes, eu não dominava, tinha que estudar muito. O que controlava minha consciência era que eu me esforçava muito, tinha controle de classe, quando percebia meus erros, comentava com os alunos, lógico que falando que era de propósito para ver se eles estavam atentos. Para mim naquele momento não tinha outra saída. Fiquei três meses nessa, substituindo uma professora grávida até o final do ano.
Novo ano, novos dramas. Apareceu outra substituição nas mesmas condições, só que no ginásio Jose de Anchieta Machado, no bairro 1º de maio. Desta vez seria para o ano todo, porque a professora era estudante de medicina e estava stressada. Fiquei com os dois cargos: um em Contagem e o outro no 1º de maio. Ou seja, 6 e 15h na Avenida Santos Dumont, e às 16hs embarcando para o Riacho. No mês de março apareceu outra oportunidade como Supervisora Pedagógica no Colégio da UNSP, no bairro da Serra. Como na ocasião estava perdendo o do Riacho, pelo fechamento anunciado de ultimo ano, lá fui eu.
Estas três escolas tinham muitas características comuns: alunato carente, falta de recursos, rodízio de professores, infra-estrutura comprometida, e como companheira constante a improvisação.
As direções delas é que eram diferentes. Cada uma delas merece ser distinguida com detalhes. Continuamos depois.

Um comentário:

  1. Olá Cara amiga!

    Parece-me que a sua história não é muito diferente do que tem acontecido ultimamente no contexto escolar. Professores que trabalham em áreas diferentes da formação inicial porque a legislação permite. Aceitam porque "precisam" desse dinheiro...É triste, é "doído", tanto para o professor(a), quanto para o aluno.
    A minha maior esperança é presenciar a mudança desse quadro...
    Abraços!
    Eudna

    ResponderExcluir

Pesquisar este blog