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10 janeiro, 2011

Ruim de Jogo IV - Catarse Funcional

Ruim de jogo IV

A vida continua. Saí com a incumbência de manter contato constante e efetivo com a inspetora. Enquanto isso tinha que montar prioritariamente meu processo de autorização e das secretárias. Tudo ao mesmo tempo, conferencia e autorização dos professores, definir o contrato social, fazer levantamento dos fundos de garantia, das guias de impostos pagos, a pagar, adaptar o Regimento Interno, de acordo com o modelo das inúmeras leis, submeter-me a sabatinas constantes sobre o que estava propondo, as questões financeiras. Atraso de pagamento era imperdoável. Os professores, em relação a isso, tinham duas defensoras incansáveis na Secretaria: Aparecida Lourenço e Fátima Gandra.
Somos humanos, e substituir uma diretora competente e querida, praticamente de pára-quedas, causa um clima de desconfiança constante. Até que se perceba que uma pessoa é uma pessoa e outra pessoa outra pessoa, cada ponto vai longe, demanda muita paciência para não perder o rumo. E olha que eu fui colocada ali pelas circunstancias que eles conheciam mais do que eu, e, por uma razão muito simples e esquecida, pelo menos estava ali também a serviço deles.
Não havia remuneração estipulada para diretor e secretárias. A prioridade eram os professores. Se sobrasse algum, seria rateado, primeiro calculando suas despesas básicas de condução e alimentação de cada um, se pagava aluguel, luz, água.
Os alunos pagavam as mensalidades de acordo com suas posses. Como as famílias naquela época tinham muitos filhos, acarretavam-se descontos proporcionais. Era tão interessante isso, que para dar mais agilidade nas discussões eu ia falando só o nome das famílias: os Silva, os Oliveira, os Gomide, e assim por diante. Alguns achavam que esta forma era arrogante, um desrespeito à individualidade, mas era uma estratégia para formar turmas, cobrar documentação atrasada ou inexistente, controle de idades, etc., o mais rápido possível para passar a solução de outro problema. Dava certo, porque o laço de união entre a escola e a comunidade era muito forte, as duas secretárias competentíssimas e situações bem inusitadas aconteciam.
Muitas das vezes o local corria o risco de se transformar em divã, ou centrais de “radia”, facilitando boatos, desgastes desnecessários para todo mundo. De ano para ano, passei por lá três, as famílias foram sumindo, migravam muito, às vezes não deixavam rastros, outras vezes permitiam que seus filhos continuassem em casa de parentes, compadres, para que continuassem estudando. Valorizavam o saber da forma que lhes era permitido. Tinham que fazer escolhas a todo o momento, pautadas em lutas extremas de sobrevivência.
Hoje percebo como os acontecimentos diários que nos parecem indiferentes às suas conseqüências, são realmente encadeados e acelerados. Um aluno do inicio do ano, não é o mesmo o do final, nem tão pouco o do ano seguinte. Nos retornos é que você vê “que isso não te pertence mais”, ou pelo menos deveria, e que como numa mudança do “tipo” da pele de uma cobra, nos nossos tempos, tanto nos modifica.
Trabalhar para identificar, adquirir, e preservar uma identidade de forma individual já é complicado, imagine ser responsável por tudo isto, como profissional em grupo.
Não existe muita educação concreta e passível de ser presenciada a olho nu, em tudo isto. Por exemplo, o decantado respeito humano, parece como a cena de um afogado subindo e descendo à tona.
Agora imagine que a sociedade elege uma classe como responsável direta por todas as suas mudanças e preservações possíveis.
O que vai acarretar? De imediato, só o “não tou tendendo nada” e quanto mais se distancia da realidade, mais a violência acelera e domina.
Para que isto se torne administrável, entre os vários entraves aparecidos, é necessário que o espaço escola seja organizado como local de atuação prevista para circulação de idéias.
Refeita a imagem de competência e autoridade de cada professor, aptos a escolher ordem, objetivos, prioridades, mesmo que quaisquer de suas ações de organização e clareamento dos objetivos desses espaços pareçam momentaneamente impossíveis e pulverizados.
O aumento dessas ações e a sua interrelaçao comunicativa, onde seja visto, mesmo que não seja de uma forma tão pura, a figura do Professor será identificada como necessária e respeitada. Quem é aluno é aluno, e quem é Professor, é Professor.
Digo isso porque penso que uma Escola representa um corte expressivo da Sociedade. Tipos humanos, retratos de uma sociedade não muito sadia, estão ali incluídos buscando interagir, comunicar-se, abrir horizontes, ganhar prestigio social e etc., querendo ou não. E esta falta de saúde está atingindo a todos, de forma indiscriminada.

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